Uma firma de estudos de mercado traçou um esboço das actividades de entretenimento dos portugueses. A televisão predomina, mas há uma multiplicidade cada vez maior de opções.
A empresa multinacional de estudos de mercado GfK divulgou um estudo sobre como a população portuguesa ocupa os seus tempos livres. Perguntou a uma amostra de 1036 pessoas que “actividades de entretenimento” é que tinham realizado nos 12 meses anteriores.
As respostas? Com uma larga maioria, “ver televisão” aparece à frente (a opção foi mencionada por 96 por cento dos inquiridos). Seguem-se ver DVD (40 por cento), ouvir música em leitores de CD ou MP3 (39 por cento), ler livros (35 por cento), navegar na Internet (31 por cento).
Que significam estes valores? Segundo Sandra Ramos, account manager da GfK e uma das autoras do estudo, comparados com dados internacionais, os números revelam que “os portugueses são mais sedentários do que as pessoas de outros países da Europa”.
Porquê sedentários? Primeiro uma nota sobre a metodologia do estudo. Os entrevistadores da GfK começaram por pedir aos inquiridos que enumerassem as suas actividades de entretenimento. Depois, liam uma lista pré-definida de actividades, perguntando-lhes se as tinham realizado.
Por exemplo: só dois por cento dos inquiridos deram “ler livros” como a sua primeira resposta. Houve outros 12 por cento que deram outra resposta inicial, mas mencionaram a leitura de forma espontânea. E houve ainda mais 19 por cento que, quando o entrevistador leu a lista de opções, mencionaram “ler livros”.
Ora, a lista de opções era limitada. Não incluía actividades como “passear” ou “praticar” desportos – que foram ambas mencionadas espontaneamente por sete por cento dos inquiridos. Ou seja, o facto de actividades como ir ao cinema, ver jogos de futebol no estádio ou visitar museus não serem mencionadas não significa que na amostra ninguém vá ao cinema, ao estádio ou ao museu – significa apenas que os inquiridos não se lembraram de as nomear.
Ainda assim, diz Sandra Ramos, em estudos comparáveis a nível internacional, os hábitos dos portugueses parecem ser dos mais sedentários. A funcionária da GfK avança uma possível explicação, ligada a uma questão cultural: “Valorizamos muito a casa, a família.”
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O estudo da GfK foi apresentado em Março em conjunto com outros dados sobre o mercado português de cultura e entretenimento. Esses dados revelam a crescente diversificação e atomização da oferta. Por exemplo: em 2007, foram editados por dia 78 livros, 13 filmes, quatro videojogos.
Até mesmo o papel da televisão foi transformado. No Inquérito à Ocupação do Tempo realizado em 1999 pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), perto de 99 por cento da população dizia ver televisão. Mas, em 1999, a grande maioria da população assistia aos quatro canais; entretanto, assistiu-se a uma grande expansão das plataformas digitais de distribuição de TV e, com ela, a uma “explosão” no número de canais disponíveis.
Um estudo mais recente, divulgado em Setembro do ano passado, apresenta números algo diferentes mas hierarquias de ocupação do tempo semelhantes. A Leitura em Portugal, um trabalho feito para o Plano Nacional de Leitura, inclui capítulos sobre os hábitos culturais dos portugueses.
Neste estudo, 97,5 por cento dos inquiridos dizem ver televisão “diariamente ou quase”; outras actividades muito frequentes (diárias ou “pelo menos uma vez por semana”) incluem “ir ao café ou esplanada”, “encontrar-se com amigos”, “ir a centros comerciais”.
Os dados de A Leitura em Portugal revelam ainda que 41 por cento dos inquiridos nunca vão ao cinema, 59,7 por cento nunca vão a museus, 64,5 por cento nunca vão ao teatro. As Estatísticas Culturais do Eurostat (gabinete estatístico da Comissão Europeia) mostram que as médias da União a 27 são praticamente idênticas aos resultados portugueses; tomando como referência a actividade nos 12 meses anteriores ao inquérito, 49 por cento dos europeus não foram ao cinema, 59 por cento não foram a museus, 64 por cento não foram ao teatro.
Relativamente aos hábitos de leitura, Portugal está mais abaixo da média. Segundo o Eurostat, 71 por cento dos europeus leram pelo menos um livro no ano anterior ao inquérito; segundo A Leitura em Portugal, 57 por cento dos portugueses lêem livros (este valor engloba livros técnicos e livros escolares).
“Em comparação com outros países europeus, são valores relativamente baixos”, disse ao P2 José Soares Neves, sociólogo e investigador no Observatório de Actividades Culturais, um dos coordenadores de A Leitura em Portugal. “Mas, apesar de serem baixos, estão em crescimento, ao contrário de outros países ocidentais, onde [os níveis de leitura de livros] estão em decréscimo.”
Ou seja, está errado o preconceito de que os portugueses, especialmente os jovens, cada vez lêem menos. Mas se os portugueses estão a ler mais, estão a fazê-lo por gosto ou por obrigação? “Temos de distinguir três contextos: a leitura de lazer, escolar e profissional. Mas eles contaminam-se uns aos outros.”
E como se explica esse aumento na leitura? Há vários factores, mas Soares Neves destaca o aumento “na qualificação escolar por um lado e na qualificação profissional por outro”. Outro preconceito que pode não ter validade é o de que os hábitos de leitura estão a ser prejudicados pela universalização do acesso à Net: “A Internet está a ganhar peso, mas é sobretudo em relação à televisão.”
in Público
Muuuito interessante…
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